História do Parque CienTec

As origens do Parque CienTec

O Museu de Meteorologia, localizado no CienTec, tem por finalidade preservar a memória das atividades meteorológicas desenvolvidas na capital de São Paulo, desde a criação da “CGG-Comissão Geographica e Geológica” em 1886, e que originou várias instituições dentre as quais, o IAG-Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo, espaço atualmente denominado de Parque Cientec-USP inaugurado em 2001, após a mudança do IAG para a nova sede na Cidade Universitária. 

O museu possui um acervo de instrumentos meteorológicos, mobiliário, acessórios, documentos e fotos originais, alguns dos quais pertenceram ao Observatório de São Paulo da Avenida Paulista até 1935, um patrimônio histórico importante do serviço meteorológico na capital de São Paulo.

A CGG-Comissão Geographica e Geológica: instituída em 27 de março de 1886. 

Três dos integrantes foram posteriormente homenageados em nomes de ruas da capital de São Paulo:

Orville Adelbert Derby- geólogo norte-americano – chefe da Comissão Geographica e Geológica.

RUA ORVILLE DERBY, bairro da Mooca.

ALBERTO LÖFGREN – (ALBERTO LOEFGREN) Botânico sueco

A rua abrange os bairros de Vila Mariana e Vila Clementino.

RUA TEODORO SAMPAIO, bairro de Pinheiros. Engenheiro civil (a grafia atual das placas é Teodoro Sampaio). Saiba mais sobre Teodoro Sampaio.

A CGG ao longo de suas atividades criou várias instituições:

-Centro Tecnológico de Hidráulica-DAEE

-Instituto Astronômico e Geofísico (em continuidade ao Observatório de São Paulo)

-Instituto de Botânica

-Instituto Florestal

-Instituto Geográfico e Cartográfico

-Instituto Geológico

-Museu de Arqueologia e Etnografia

-Museu Paulista

-Museu de Zoologia

O Observatório de São Paulo 

Por sugestão da CGG foi construído o “Observatório de São Paulo” pelo Eng. Civil José Nunes Belfort Mattos ao lado da sua residência onde funcionava o Observatório da Avenida como era conhecido, no. 133 da Av. Paulista, antigo Belvedere onde hoje é o MASP. Foi inaugurado em 1912 e funcionou até 1935. Belfort Mattos foi nomeado chefe do Observatório, desenvolvendo atividades de Astronomia, Geofísica e Meteorologia, áreas nas quais tinha um particular interesse.

Eng. José Nunes Belfort Mattos Primeiro diretor do Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo de 1902 a 1907.  Dedicou-se ao estudo da Astronomia, Meteorologia e Climatologia.
Vista do quintal da residência do Eng. José Nunes Belfort Mattos – No. 133 da Av. Paulista
Lançamento de Balão-piloto para cálculo da velocidade e direção doVento por meio do Teodolito no quintal da residência

A Torre Meteorológica do Jardim da Luz

Torre circular onde funcionou a Estação Meteorológica da Comissão Geographica e Geológica de 1888 a 1894 no Jardim da Luz, posteriormente transferida para o edifício da Escola Normal da Praça da República.

Ao fundo, vista da Torre Meteorológica do Jardim da Luz na capital de São Paulo.

Era conhecida como o “Canudo de João Teodoro” em alusão ao presidente da província de São Paulo de 1982 a 1985, João Teodoro, governador do período.

Dr. João Teodoro Xavier de Matos foi político, Advogado, Professor de Direito, Promotor Público, Procurador da Tesouraria da Fazenda, e o primeiro urbanista do Brasil, promovendo reformas importantes do traçado urbano da capital de São Paulo.

O Jardim da Luz foi criado em 1825 no local conhecido como Campo da Luz ou Campo do Guaré. Tornou-se o primeiro parque público de São Paulo, local onde foi iniciada a construção da  Capela Nossa Senhora da Luz, dando ao nome. Já foi denominado de Jardim Botânico da Luz, Jardim Público da Luz e novamente Jardim da Luz.

Vista da Torre Meteorológica - demolida em 1900
Posto Meteorológico do antigo Horto Botânico, denominado posteriormente de Horto Botânico, e atualmente de Parque Estadual Alberto Loefgren.
CGG - Primeiro mapa de chuva para o estado de São Paulo (1901)
CGG - Diploma de Honra da “Esposizione Internazionale Delle Industrie e Del Lavoro-Torino 1911” conferido ao Serviço Meteorológico da Capital de São Paulo
Vista da cúpula do Observatório de São Paulo na Avenida Paulista, atual MASP , da Rua da Consolação para o bairro do Paraíso (1925)
Fachada do prédio do Observatório de São Paulo também conhecido como Observatório da Avenida. À direita, a residência do Eng. José Nunes Belfort Matos. À esquerda, parte do belvedere da avenida.
Vista aérea do prédio arquitetônico do belvedere da Avenida Paulista (atual MASP). O prédio à esquerda é o Observatório de São Paulo - foto anterior a 1935.
Vista frontal do prédio do belvedere.À esquerda: prédio do Observatório de São PauloPrimeiro plano: espaço do futuro jardim do parque Trianon
Observatório de São Paulo – sala de instrumentos com umaCâmara Barométrica Fuess ao centro
Escritório do Observatório de São Paulo
Observatório de São Paulo - Gabinete do Eng. Alypio Leme de OliveiraDiretor a partir de 1927 e organizou o projeto da criação doServiço Meteorológico e Astronômico do Estado de São Paulo

Origens da Avenida Paulista

Idealizada pelo Eng. Joaquim Eugenio de Lima de origem uruguaia e seus dois sócios, João Borges Figueiredo e João Augusto Garcia, que adquiriram terras do fazendeiro e industrial José Coelho Pamplona, um benemérito das artes, e da Chácara Bela Cintra. Foi inaugurada em 1891.

Busto de Joaquim Eugenio de LimaParque Tenente Siqueira Campos (Trianon)

Inicialmente foram sugeridos os nomes “Avenida das Acácias” e “Prado de São Paulo”, mas Lima não concordou e disse: “Será Avenida Paulista, em homenagem aos paulistas”.

Nesta proposta também foram homenageadas a cidade de Santos cujo porto era o maior do Brasil, e a cidade de São Carlos do Pinhal, a mais produtiva do interior de São Paulo, surgindo assim, a Alameda Santos e a Rua São Carlos do Pinhal nas vizinhanças.

Posteriormente o próprio Lima teve seu nome homenageado na Alameda Joaquim Eugenio de Lima.

“A Avenida dos Barões do Café

Em 1890, o engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima e os seus associados, adquiriram terrenos da antiga trilha de boiadeiros, depois conhecida como Rua da Real Grandeza. A região foi demarcada, urbanizada e ligada por bondes ao centro da cidade. Teve um tratamento paisagístico inspirado nas avenidas européias. Plátanos, ipês roxos e amarelos, acácias, magnólias, faziam parte da sua arborização. No dia 8 de dezembro de 1891 foi inaugurada a avenida que se deveria chamar Avenida das Acácias ou Prado de São Paulo, mas, em homenagem ao povo paulistano, recebeu o nome de Avenida Paulista. Tinha uma extensão de três quilômetros, com três faixas de trânsito: para carruagens e cavaleiros, pedestres e bondes.

Tão logo surgiu, a Avenida Paulista foi transformada na região mais nobre da cidade. Sua arquitetura urbanística era formada por palacetes dos barões do café, por casarões ladeados de grandes jardins particulares, com sofisticados projetos ecléticos da Belle Époque, da art nouveau, mourisco e neoclássico. Além dos barões do café, era habitada por banqueiros, imigrantes enriquecidos na indústria e comércio.

Em 1916, com projeto de Ramos de Azevedo, o então prefeito Washington Luís, inaugurava, no meio da avenida, o Belvedere Trianon da Avenida Paulista, imensa plataforma de onde se podia ver todo o panorama da cidade. Tinha salão de festas, uma galeria e extensa pérgula que exibia uma estátua de cada lado. Trianon era o nome de um restaurante ali localizado, que emprestou o nome ao Belvedere.

Aos domingos, O local tornou-se o ponto elegante de encontro e passeio da mais alta elite paulistana. Foi do Trianon a largada da primeira maratona de São Silvestre, em 1924, organizada pelo jornalista Cásper Líbero. Ao lado do Belvedere havia o Parque Villon, criado em 1892, com projeto do francês Paul Villon, a aproveitar remanescentes de mata nativa. Na década de trinta o Parque Villon foi rebatizado de Parque Tenente Siqueira Campos, nome que prevalece até os dias atuais. 

Em 1927, a Avenida Paulista mudou de nome para Avenida Carlos de Campos, nome que conservou até 1930, mas, por petição dos vizinhos, recuperou a sua antiga e popular denominação.”

Nota: 

Carlos Carneiro de Campos foi político, 3º Visconde de Caravelas, diretor do Banco do Brasil, Conselheiro de Estado, Ministro da Fazenda, Deputado Provincial e Geral, Senador do Império do Brasil, Presidente da Província de São Paulo (governador), de 17 de dezembro de 1852 a 4 de janeiro de 1853. Posteriormente seu nome foi homenageado na Av. Carlos de Campos no bairro do Pari.

Cartão postal-resposta com a fachada do Observatório de São Paulo, período em que a Av. Paulista mudou de nome para Av. Carlos de Campos: 

À esquerda: cartão-postal fachada do Observatório de São PauloÀ direita: verso do cartão-postal com o nome da cidade recebedora

Origens do IAG

Com o movimento crescente da cidade, o tráfego dos bondes na Av. Paulista começou a afetar alguns instrumentos devido à trepidação, e isto fez com que fosse necessário escolher um novo local para sediar o Observatório. 

Vista aérea da Avenida Paulista em 1902
Bonde trafegando pela avenida em 1900
Avenida Paulista em 1928

Em vista desse sério inconveniente, foi sugerida a mudança do Observatório de São Paulo para uma região mais adequada e assim, a escolha recaiu na área do então denominado Parque do Estado, atual PEFI-Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, localizado no bairro Água Funda, e em 24 de fevereiro de 1932, foi iniciada a construção do Instituto Astronômico e Geofísico e inaugurado em 25 de abril de 1941. Em 30 de dezembro de 1946, o IAG foi incorporado à Universidade de São Paulo como instituto anexo.

Eng. Alypio Leme de Oliveira: primeiro diretor do IAG de 1933 a 1955.

Responsável pelo projeto arquitetônico dos edifícios do IAG

Prof. Abrahão de Moraes: diretor do IAG de 1955 a 1970

Professor de Matemática Superior, Física Experimental, Física Atômica, Mecânica Racional e Celeste, docente da FFCL-USP, Escola Politécnica-USP, ITA, PUC, FFCL de São Bento, FFCL-Mackenzie, sócio-fundador da Associação de Amadores de Astronomia , e coordenou as atividades programadas para o IGY-Ano Geofísico Internacional de 1957-1958, foi presidente da CNAE-Comissão Nacional de Atividades Espaciais, que originou o INPE-Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais em 1961.

Teve seu nome homenageado no “Auditório Abrahão de Moraes”, no “Centro Acadêmico Abrahão de Moraes”, ambos do Instituto de Física da USP; no “Observatório Abrahão de Moraes” em Valinhos, São Paulo, e a partir de 1971, um trecho da antiga Avenida Água Funda no Bairro da Saúde entre a Rodovia dos Imigrantes e a Avenida Dr. Ricardo Jafet, também recebeu o nome de “Avenida Prof. Abraão de Morais”, com dois erros de grafia.

Autoria: Festa, M.; Bassini, A.(2020) História do Parque completa.

Contato: bassini@usp.br

Créditos detalhados

Autores:

Mario Festa

Ailton Marcos Bassini 

Apoio técnico:

Luca Hermes Pusceddu