Descobrimos vida em Vênus?

Imagem de Vênus, observada na faixa de ondas de 365 nm pelo Venus Ultraviolet Imager (UVI) a bordo da sonda Akatsuki. As observações foram feitas em 6 de maio de 2016, quando a espaçonave viu todo o planeta iluminado.J. Greaves / Cardiff University

Em 14/9/2020, uma equipe de astrônomos da Universidade de Cardiff anunciou a descoberta de fosfina na atmosfera de Vênus, molécula essa que na Terra pode ser resultado de processos artificiais, ou seja, produzida em laboratório, de processos naturais, como vulcões e raios, ou pela atuação de microrganismos.

A fosfina também pode ser levada por meteoritos ou até mesmo gerada por interações com o vento solar, mas novamente, a quantidade produzida por esses processos seria insuficiente para explicar o que havia sido observado.

Como acreditamos que não existam laboratórios em Vênus e que também a quantidade encontrada é muito maior que aquela produzida em processos naturais, a terceira opção era a mais empolgante.

Porém, em uma reanálise feita usando os dados do rádio observatório ALMA, localizado no deserto do Atacama no Chile,  em 20/10/2020, nenhuma evidência de gás fosfina foi encontrada.

Impressão artística de Vênus, com uma inserção mostrando uma representação das moléculas de fosfina detectadas nas altas nuvens.CréditoESO / M. Kornmesser / L. Calçada e NASA / JPL / Caltech

A detecção foi feita inicialmente pelo telescópio James Clerk Maxwell (JCMT) no Havaí, e depois confirmada pelo ALMA no Chile.

O Telescópio James Clerk Maxwell (JCMT), situado perto do cume de Maunakea, Havaí, é o maior telescópio do mundo projetado especificamente para observar comprimentos de onda submilimétricos. O telescópio é usado para estudar objetos que vão do nosso Sistema Solar e galáxias distantes, a poeira e gás interestelar e circunstelar.Will Montgomerie / EAO / JCMT
Renderização artística do ALMA Array, em uma configuração estendida. © ALMA (ESO / NAOJ / NRAO)

Como tudo na ciência, é normal que outros grupos e outros pesquisadores confirmem, ou não, resultados tão importantes. Foi o que ocorreu em 2014, quando cientistas anunciaram a detecção de ondas gravitacionais descrevendo-as como “ecos” do Big Bang, e em 2015, os mesmos cientistas voltaram atrás dizendo que, na verdade, os sinais eram emitidos por poeira da Via láctea. E o que ocorreu agora, quando equipes independentes fizeram reanalises dos mesmos dados observacionais do ALMA e chegaram à conclusão oposta.

A astrofísica brasileira associada a NASA, Duilia de Mello, disse que devemos ter cautela e apontou o primeiro estudo como precipitado, ainda mais quando missões espaciais estão sendo preparadas. Novos estudos serão feitos, novas observações, até que haja uma confirmação e um consenso em toda academia científica.


Créditos detalhados

Autores:

Junior Cesar Pimentel Vargas

Júlio C. Klafke

Ailton Marcos Bassini (bassini@usp.br)

Apoio técnico:

Pedro de Oliveira Gruppelli