A neve cai!... geada e orvalho caem?!... e o que é escarcha?

Em 354 AC, o filósofo grego Aristóteles escreveu a obra “Meteorológica”-(metéoros + lógos), que significa “tratado do suspenso no ar”, em que descreveu várias áreas do conhecimento, e hoje tratadas na Geografia, na Física e na própria Meteorologia, ciência esta que estuda os meteoros que são todos os fenômenos que ocorrem na atmosfera. Por esta razão, Aristóteles é considerado “Pai da Meteorologia”.

É conveniente diferenciar “meteoro” de “meteorito”, em que este último é uma rocha que ao viajar pelo espaço sideral, pode atravessar a atmosfera terrestre e se incendiar devido ao atrito com o ar, podendo atingir a superfície do solo, caso não seja totalmente destruído. O rastro luminoso que produz antes de cair é um “meteoro”, É conhecido erroneamente por “estrela cadente”, vide figuras abaixo.

Dentre a grande variedade de meteoros que ocorrem na atmosfera, há uma certa confusão entre neve e geada, visto que ambos são formados por cristais hexagonais de gelo. A queda da chuva, da neve e do granizo, são formas de precipitação denominadas de hidrometeoros precipitantes, em que a água cai da nuvem na forma de gotas de água, cristais de gelo ou grãos de gelo, enquanto que o orvalho e a geada, são considerados meteoros depositantes porque não caem. Formam-se quando o vapor de água próximo à superfície terrestre se condensa ou se congela respectivamente, sobre superfícies expostas ao ar livre.

Portanto chuva, neve, e granizo, são meteoros que caem necessariamente de uma nuvem, por isso são precipitantes, enquanto o orvalho e a geada se formam na ausência de nebulosidade, o que significa que só podem ocorrer quando o céu está sem nuvens que atuam como uma cobertura que retém o calor emitido pela superfície do solo. Nesta condição, nas noites sem nebulosidade, o calor do solo é rapidamente irradiado para o ar acima da superfície, fazendo com que a temperatura rente ao solo, diminua significativamente de modo a poder condensar o vapor de água em pequenas gotículas sobre superfícies e objetos, produzindo o orvalho durante a madrugada, também conhecido como “sereno” e única fonte de umidade para a vegetação em períodos de seca. É encontrado nas teias de aranha ao ar livre, folhas da vegetação, e superfícies metálicas como as dos automóveis. Em muitas aldeias africanas, o orvalho é a única fonte de água potável, onde as gotas de água são recolhidas em cabaças, logo nas primeiras horas da manhã antes do Sol nascer, antes que a água evapore rapidamente.

O mesmo acontece com a geada, quando em temperaturas próximas de 0°C ou abaixo, o vapor de água se congela, produzindo os cristais de gelo, e forma uma paisagem esbranquiçada conhecida por geada branca.

Há ainda a escarcha, um hidrometeoro que em temperaturas muito baixas, se deposita nas superfícies verticais externas das vidraças, devido ao vapor de água que congela instantaneamente em contato com o vidro, formando desenhos de plumas, flores e folhagens. Este mesmo fenômeno pode ocorrer nos cascos dos navios quando o borrifo da água do mar, congela e se acumula no lado em que o vento sopra, podendo causar uma perigosa inclinação do navio devido ao peso do gelo, e tombar do lado em que o gelo se acumula, afundando em seguida. Para evitar esta condição, os marinheiros devem quebrar o gelo o quanto antes, a fim de evitar um acúmulo perigoso. Vide figuras abaixo.

Conclusão: a neve cai, mas geada e orvalho não caem, e vale lembrar que no cancioneiro popular brasileiro há músicas como “Vem Chegando a Madrugada” popularizada por Jair Rodrigues, que tem uma frase que diz “o sereno vem caindo”, e “O Orvalho Vem Caindo” cantada por Aracy de Almeida, frases que embora não correspondam estritamente à realidade, expressam a inspiração dos poetas no momento da criação, e que não deve ser criticada do ponto de vista científico.

Geadas mais intensas no Brasil: em 27/07/1955 que encobriu mais de 60% da área do território nacional; e em 18/07/1975 uma das mais intensas, atingindo 90% do país e alcançando a região do Equador, causando enorme prejuízo à lavoura. De modo paradoxal, apesar de ser um desastre natural que causa a perda da safra, alguns agricultores acreditam no benefício que a geada provoca ao eliminar fungos, ácaros e doenças das plantas, preparando um terreno mais saudável para a colheita seguinte.

Nota: Na agricultura ocorre às vezes, a geada negra que não é exatamente uma geada, numa condição atmosférica do ar muito frio e seco que congela a parte interna da seiva da planta, que morre e fica com um aspecto muito escuro, daí o nome, mas sem a presença dos cristais de gelo.

https://www.terra.com.br/noticias/brasil/e-verdade-que-nevou-em-sao-paulo-em-1918,d831d0daffbef427ba39fccbff64f203y0xqauch.html

http://www.nossalucelia.com.br/n29854.html

http://www.abaixodezero.com/index.php?/topic/6463-a-super-onda-de-frio-do-inverno-de-1955/

Autoria: Festa, M. (2020) A neve cai.. geada e orvalho caem?!... e o que é escarcha?