Os relâmpagos de Catacumbo: o lugar mais elétrico da Terra

Você já ouviu falar que "um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar"?...o Lago de Maracaibo na Venezuela onde deságua o Rio Catacumbo no estado de Zulia, prova não ser verdade porque a região é atingida por uma média de 28 relâmpagos por minuto, chegando às vezes a mais de 60 clarões por minuto e milhares por hora, sendo considerado o lugar mais elétrico do mundo, com cerca de 1,2 milhões de relâmpagos por ano.

O fenômeno é também conhecido como “Farol de Maracaibo”, pois as embarcações podem navegar sem problemas a noite inteira, como se fosse dia, e os pescadores se orientam pela luz dos raios que caem com mais intensidade na parte sul, a zona pantanosa da foz do rio. Devido a forte intensidade da luz que os raios provocam, os clarões podem ser vistos a 400 km de distância, até na vizinha Colômbia. Os raios atingem mais de 10 km de altura, e normalmente os trovões não chegam aos ouvidos por ocorrerem bem distantes do solo. O espetáculo ocorre mais de 260 noites por ano no início do entardecer, chegando a durar dez horas por noite.

O local também tem muita importância histórica, porque os relâmpagos tem desempenhado um papel significativo para o país, por terem impedido ao menos duas invasões noturnas: a primeira tentativa foi em 1595, quando navios liderados por Francis Drake foram iluminados pela tempestade, revelando o seu ataque surpresa aos soldados espanhóis em Maracaibo; a segunda foi em 1823 durante a Guerra da Independência da Venezuela, quando os clarões iluminaram a frota espanhola invasora. Lope de La Vega escreveu o poema épico “La Dragontea” publicado em 1597, que narra as desventuras de Francis Drake nas terras do Novo Mundo, e é o primeiro registro conhecido que fala dos relâmpagos de Catatumbo.

Nos primórdios do século XIX, Alexander von Humboldt, que durante as viagens na região pesquisava enguias elétricas e chuvas de meteoros, descreveu os relâmpagos de Catatumbo como "explosões de eletricidade que parecem fulgores fosforescentes".

Como se formam?

É uma combinação única de topografia da área misturada com correntes de ar que causam as tempestades noturnas. De modo surpreendente, as tempestades de raios tem uma posição de destaque na região. Entre abril e novembro, os relâmpagos aparecem e desaparecem de forma constante, um fenômeno que virou rotineiro para os moradores locais, e quantidade de relâmpagos é tanta, que os habitantes precisam escurecer o interior de suas casas com cortinas grossas para poderem dormir.

A causa destas enormes tempestades de relâmpagos tem sido o assunto de muito debate. Existem várias teorias para explicar as tempestades contínuas, incluindo a topografia da área muito peculiar e os ventos fortes que percorrem o lago, formando nuvens ao atingir as montanhas andinas e os pântanos que liberam gás metano. A Bacia do Lago de Maracaibo é cercada por montanhas que armazenam os ventos quentes que saem do Caribe, e que colidem com o ar fresco dos Andes.

Daniel Cecil, da equipe de raios do Global Hydrology and Climate Centre’s disse: “Muitos pontos de relâmpagos estão ligados às características do terreno, como a cadeia de montanhas, a costa curvada e combinações de ventos. Tais irregularidades no terreno podem ajudar a gerar padrões de vento, de aquecimento ou de arrefecimento, que aumentam a probabilidade de trovoadas”.

Em 1906, os raios desapareceram por três semanas após um grande terremoto na costa da Colômbia e do Equador e o tsunami resultante dele. Em 2010, uma seca extrema causada pelo fenômeno “El Niño”, que levou à escassez de eletricidade em um país que muito depende de energia hidrelétrica, fez com que os relâmpagos cessassem durante meses, levando muitos a pensar que o fenômeno desaparecera para sempre, mas regressou com muita intensidade para alegria dos habitantes do estado de Zulia, cujo brasão e a bandeira ostentam um faiscante relâmpago atravessando um Sol radiante, e o fenômeno é citado até no seu hino.

Na atmosfera, as descargas elétricas transformam três moléculas de Oxigênio, em duas moléculas de Ozônio (3O2 + raios → 2O3), que absorvem os raios Ultravioletas (UV), contribuindo assim a Camada de Ozônio na Estratosfera, por isso alguns dizem que os relâmpagos de Catatumbo, serem o único fenômeno natural que protege a atmosfera dos raios UV. Por outro lado, alguns estudos mais específicos, concluíram ser pouco provável que o Ozônio gerado no Rio Catatumbo, consiga alcançar a Estratosfera a ponto de alimentar a Camada de Ozônio que protege o planeta. Surgem ainda, outras possibilidades com os cientistas afirmando que as alterações climáticas e o desmatamento das terras em redor do rio e do lago, poderão diminuir a frequência dos relâmpagos, pondo em risco o título mundial e a candidatura a patrimônio da Unesco.

Após dezesseis anos de pesquisas, ficou cientificamente provado Catatumbo registra a maior densidade de descargas elétricas do mundo, com mais de 250 relâmpagos por quilômetro quadrado por ano, e em 28 de janeiro de 2014 foi registrado no “Livro Guinness dos Recordes”. Em 2016, a NASA qualificou a região como "a nova capital dos relâmpagos", pois anteriormente a aldeia montanhosa de Kifuka no Congo, disputava esse título com 158 relâmpagos por quilômetro quadrado. Em apenas um minuto, a energia emanada pelos relâmpagos poderia iluminar toda a América Latina, mas Infelizmente toda essa energia não pode ser armazenada e aproveitada para uso doméstico ou industrial.


Nota: “raio”, “relâmpago”, “faísca”, “corisco”, “lôstrego” são sinônimos, sendo possível encontrar na língua portuguesa, mais de 140 sinônimos.

http://actualidad.rt.com/actualidad/183070-lugar-alta-concentracion-rayos-venezuela

https://elsumario.com/relampago-de-catatumbo-podria-ser-patrimonio-de-la-unesco/https://pt.wikipedia.org/wiki/Rel%C3%A2mpago_do_Catatumbohttps://www.bbc.com/portuguese/internacional/2016/05/160504_recorde_raios_lab

Autoria: Festa, M. (2020) Os relâmpagos de Catacumbo: o lugar mais elétrico da Terra.